Parte I
Cornélia, minha querida,
Hoje trago novidade,
Uma nova habitante,
Para este nosso lar.
Perdeu pai, perdeu mãe,
Sem dinheiro ela está,
Pobrezinha, abandonada,
Não tem mais onde morar.
Sabendo-lhe caridosa,
Tendo um grande coração,
Um teto para esta estrangeira,
Sei que não vais recusar.
E para nossa vida a dois,
Esta hóspede não tumultuar,
Coloca-la-emo nos fundos,
Onde ninguém vai olhar.
Afinal a vizinhança maldosa,
Sempre em busca de novidade,
Deve à nossa bondade,
Por completo ignorar.
E a moça tímida e feliz,
Nos fundos daquela casa amarela,
Se instalou com a benção,
Da virtuosa Cornélia.
Parte II
Algumas tardes e noites,
Passou Cornélia bondosa,
A dar falta do marido,
Mas sabendo-o trabalhador,
Esforçado e preocupado,
De forma alguma se incomodou.
Também estranho achou,
Lá do barraco do fundo,
No silêncio que domina a noite,
Ou na modorra da tarde,
Gemidos abafados e leves ouviu,
Mas Cornélia, a bondosa,
De forma alguma se incomodou.
Um dia, acordando às três,
Sonolenta e sedenta da noite,
Ouviu ruídos lá fora,
O que seria, seria o que ?
Pela pequena janela,
Um emperrado basculante,
Do barraco da hóspede ela viu,
Ondas humanas imersas em suor,
Um Urso peludo gemendo,
Sobre uma Vênus ardendo,
Seu amado marido fazendo,
A novata de mulher.
Parte III
Astuta Cornélia não armou,
Um barraco de gritos.
Com telhado de lamúrias,
E paredes de mágoas.
Seria coisa de boba,
De maneira nenhuma, não,
Além de inteligência,
Cornélia a virtuosa ?
Ela tinha educação.
Começou foi uma amizade,
Com aquela habitante,
E descobriu-lhe a vocação.
Quem diria, ela sabia,
Fazer blusa, fazer calça,
Lingerie e pregar botão.
Comprou do seu próprio bolso,
Pano, linha, agulha e carretel,
E daquele dia em diante,
Costuraram e costuraram,
E vendiam a produção.
A hóspede gostou muito de ganhar,
Uma quantia em dinheiro,
Independente viu que podia,
Agora se transformar.
E após o pleno dia,
Daquela labuta incessante,
Mais energia não tinha,
Para satisfazer ao seu senhor.
Raivoso quis o Urso,
A novata dispensar,
Longe daquela casa,
Que fosse se arranjar.
Parte IV
Valente, então, Cornélia,
Muito dinheiro no bolso,
Solenemente ao Urso,
Naquela mesma tarde de Abril,
Deu seu veredito:
"Quem vai embora é você,
Monstro sem coração,
Esta moça agora é,
Minha sócia no trabalho.
Junta seus trapos, marido,
E arranja um outro lar,
Aqui, agora, é uma empresa,
Vai para outro lugar,
Homem torpe e sensual,
Traidor e pusilânime" .
E Cornélia e a sócia,
Foram felizes para sempre.
Bernardo Meyer (Jun/2014)
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