terça-feira, 1 de julho de 2014

À sociedade

O que queres de mim,
Oh, grande organismo vivo,
O que pedes insistente,
Me tirando a paz.

Já consumo o que geras,
Com seu apetite voraz,
Faço odes em voz alta,
De suas virtudes duvidosas,
De seus caprichos ambíguos.

Andas sempre em convulsão,
É grande seu desejo monetário,
Enlouqueces seus filhos,
Limpas a sujeira visível,
Escondes seus propósitos obscuros.

O medíocre exaltas e aplaude,
Ele joga teu jogo,
Ele faz a tua vontade,
Assim no Planalto, como na praia,
Acho que eu mesmo,
Por preguiça e lassidão,
Vou na fila como gado,
Imitando a multidão.

Tu jogas algumas moedas,
Que os tolos catam com fome,
Agradecidos como pombos,
Comendo migalhas na praça.

Quero, da minha casa tranquilo,
Entrar e sair contente,
Com uma, duas ou três,
Sacolas cheias na mão,
Trazendo o meu suado sustento.

O que queres mais de mim ?
Coloco em teu cofre os impostos,
Ando em suas ruas e becos,
Sou honrado cidadão,
Não jogo papel no chão.

Eleges os teus queridos,
Os políticos robôs,
Todos falam a mesma coisa,
Saúde, educação e justiça,
Acham que são melhores,
Mas muitas cópias tiveram.

Consomem o luxo da indústria,
Soltam rojão e balão,
Em breve comerão a terra,
Esquecidos, sujos e podres.

Vivem bem nesta vida,
Comem do creme e do pão,
Sentam na espuma macia,
Nem pernas usam para andar,
Há muito se afastaram do chão,
Nas nuvens estão a voar.

E eu, inseto pequeno,
Vou em seis pernas andando,
Invisível e sorrateiro,
Pelo menos, deste jeito,
Este monstro invejosos,
Não me ameaça cobrar.

Mas que ilusão essa que disse,
Até o seis pernas do lado,
Imitando o grande monstro,
Quer ter o que eu tenho,
De olho gordo cobiça,
Minhas sacolas de compras.

O que queres mais de mim?
Dizes que faço pouco !
Já aguento muito chato,
Perniciosos, invejosos e loucos.

Convivo com bipolares,
Ouço os tagarelas,
Suporto neuróticos,
Obedeço humanos.

Ainda tem gente enganada,
Que acha que o homem é bom,
Que não precisa de Deus,
Com a boca escancarada.

Vou fazer, e concluo,
Tal qual a maioria,
Vou seguir a minha vida,
Tu, de quem falo, te viras.

Sociedade doente,
Monstro demente,
Leviatã inclemente,
Sempre, sempre presente.

Bernardo Meyer (Jun/2014)

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